Caso Padre Beto: imprensa e destacamentos
Manchete na Folha de São Paulo sobre o caso Padre Beto é o
típico exemplo (para citar UM) de destacabilidade da imprensa, que reconfigura
sentidos.
“Padre que defende homossexualidade pede afastamento da
Igreja” ==> O personagem da notícia é definido, no título, como “aquele que defende
homossexualidade”, recortando apenas um entre tantos outros aspectos do que
pode ser defendido (ou simplesmente compreendido) por uma personalidade humana.
Recortes redutores são faíscas do que chamam de Inquisição; quem pratica não é
só a Igreja, mas também a imprensa, o povo.
(Parêntese. Suponho, sem poder ter certeza, que o título supracitado não seja da
jornalista que assina a matéria da Folha de São Paulo, cujo texto, no conjunto,
é equilibrado, e sim fruto da arte dos “títulos publicitários” da mídia. A
mesma arte que gera manchetes do tipo “Dilma diz que inflação não é prioridade”.).
Entre tantos argumentos que Padre Beto já “defendeu” (ou
compreendeu, ou refletiu sobre...), sempre estiveram a beleza do verdadeiro
catolicismo e o sentido de ser cristão.
Mais apropriado, talvez, seria dizer que ele defende a responsabilidade de cada um ser e assumir o que é, sempre respeitando o próximo e os limites de sua liberdade sem afetar a do outro.
Palavras de Padre Beto no vídeo polêmico: “Homo ou heterossexual,
eu preciso decidir qual vida eu quero levar, que vida eu quero construir. O que
não pode é a traição. A traição é a coisa mais condenável no relacionamento
humano. (...) Fidelidade é transparência.”.
Palavras (aproximadas) de Padre Beto, a mim, há oito anos:
“Você não conhece a fundo o catolicismo e critica a Igreja. Se conhecesse
saberia que é uma religião belíssima.”
Outras palavras, se não as dele, não teriam me amparado no
momento em que eu buscava alguma coerência entre minhas ideologias e uma
celebração de casamento segundo a religião em que fui batizada. É esse Padre
que a igreja perde. Um Padre que aproxima, e não que afasta.
Não significa que concordo com absolutamente TUDO o que diz ou
faz Padre Beto.
Que o caso sirva, também, para mostrar o poder destrutivo
dos destacamentos que NÓS somos capazes de fazer enquanto nos comunicamos. Destacamentos e julgamentos, como os de Reinaldo Azevedo em seu blog de Veja: Beto é "um padre tonto...", enquanto Che Guevara é "o porco fedorento e assassino".
Eu não uso camiseta de Che, mas não me acho melhor do que quem as usa; ou não acho melhores os que vestem tantos adjetivos aleatórios.
Érika, muito bom! Concordo com a infelicidade do título da matéria da Folha. A Cristina Camargo não faria aquilo: ela é uma jornalista competente e responsável. Sobre o colunista de Veja: é tão risível e obtuso o artigo que não vale o batuque do teclado. Beijos.
ResponderExcluirFernanda, concordo sobre o profissionalismo da Cristina Camargo. Tanto que o título não condiz com o conjunto da matéria. Complicado esse funcionamento da imprensa, que pode fazer com que jornalistas não se identifiquem com títulos de suas próprias matérias; ou mesmo com que os títulos não representem tais matérias.
ExcluirE eu concordo com vocês duas.
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