CRÔNICA - Dias claros como a neve
Crônica da estudante Larissa Borges Caliari (Jornalismo - Unesp) inspirada em notícia real.
Dias
claros como a neve
por Larissa
Borges Caliari
Acordo de manhãzinha e sinto
o dia frio, ouço o papai chamando a mamãe para olhar a paisagem da janela. Ela
se anima e ouço seus passos quando levanta da cama correndo. Os dois falam
sobre a neve, em como ela deixou a paisagem branquinha durante a noite. Os dias
mais frios são sempre muito animados aqui em casa. A voz da mamãe se torna mais
doce e calma, e a do papai mais confiante e serena.
Fico imaginando como é a
paisagem, me esforço para enxergar a mamãe e o papai, vejo o vulto deles,
abraçados, olhando um para o outro. Então, eles caminham em minha direção,
sinto o perfume do papai, que acabou de tomar banho para ir ao trabalho. Ele
coloca um cobertor quentinho em cima de mim, enquanto a mamãe coloca a mamadeira
em minha boca. Ouço o som de lenha queimando na lareira, de água fervendo para
o chá, da batedeira funcionando. Logo em seguida, sinto o ambiente
aconchegante, o cheiro de chá e de biscoitos assando.
Percebo tudo a minha volta,
mas tem coisas que não são muito claras para mim. Como o cabelo brilhante da
mamãe, que o papai diz que fica lindo com aquela touca azul-marinho, ou a
diferença de cor entre o cabelo e a barba dele, que ela diz ser um charme
único. As cores, formas e movimentos se confundem diante do meu olhar, mas sei
que os dois são as pessoas mais bonitas que já vi.
O papai sai pra trabalhar
logo de manhã, e mamãe vai perto da hora do almoço, quando a vovó chega com
seus passos lentos e silenciosos e me pega no colo por horas, como todos os
dias. A sua roupa é macia, o perfume suave e a voz sempre reconfortante. Hoje
ela está mais feliz, percebo a ansiedade em seus movimentos e imagino que deve
ser por causa da neve, que alegra os dias da família toda.
Percebo que está ficando
tarde, os dois não chegaram na hora de costume. O dia já está se tornando noite
e o frio aumenta com o repousar do sol. Então o portão se abre, ouço a conversa
animada e os passos apressados. Mamãe entra e pergunta por mim para vovó, que
aponta em minha direção. Eles vêm até o berço com uma caixinha embrulhada de
presente. Estão conversando comigo, mostram o embrulho, desembrulham e abrem.
Tiram de lá uns óculos, como o da vovó, e percebo que aqueles são pra mim
quando papai traz em direção ao meu rosto. Ele prende atrás da minha cabeça e
encaixa nos olhos.
Vejo tudo com clareza, as
imagens são mais coloridas e brilhantes, papai e mamãe estão mais bonitos que
antes, flocos branquinhos estão passando pela janela, é a neve! Vejo como é
felpudo o casaco macio da vovó, como a pele macia da mamãe é branquinha e como
o cabelo cheiroso do papai é encaracolado. Não consigo conter minha felicidade,
sorrio para os três e eles sorriem de volta para mim! As risadas agora também
são mais bonitas.
Notícia que inspirou esta crônica: campanha arrecada armações de óculos
para pessoas de baixa renda.
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