Bibliothéque (en France)
Sala de estudos na biblioteca da Université Paris-Sorbonne
Quando temos a oportunidade de nos aproximar de
outras culturas, uma das melhores experiências é observar. Simplesmente
observar, sem achar que a outra é melhor ou pior do que a nossa. Refletir. Algo
que observo na vida acadêmica daqui (Paris, França) é a importância das bibliotecas como
espaços de estudo. Nas aulas a que assisto (mestrado ou graduação – como um
estágio para mim), o professor propõe reflexões. Os alunos mantêm uma postura
respeitosa: anotam, fazem perguntas quando têm interesse, não comparecem e
arcam com a ausência quando não tem. E é nas bibliotecas que o aprendizado se
solidifica, ambiente intenso de estudo e concentração. A meu ver, a beleza histórica
desses ambientes contribui muito para esse foco, inspira.
O professor é
importante, porque sinaliza caminhos, mas ele não mastiga nada. No exame, as
salas lotam, o professor cobra – faz parte. Os jovens universitários são como
quaisquer outros: sentam-se no chão, deixam escrituras eventualmente impróprias
nos banheiros, falam muito ao celular (nunca na aula ou na biblioteca). Mas
eles têm uma espécie de “botão” de concentração que liga nas aulas e nas
bibliotecas. E talvez isso venha de uma cultura contemplativa adquirida desde a
infância e relacionada à oportunidade de crescer em um ambiente onde, desde crianças,
visitam museus e outros pontos culturais, com pais e professores.
Desde a
primeira vez que vim a Paris, fiquei impressionada com um pequeno grupo de
crianças no Museu D’Orsay, absolutamente atentas à professora, que as
estimulava a observarem as vestimentas infantis em um quadro antigo, a observarem
as diferenças em relação aos tempos atuais. Fiquei ali encantada, aprendendo com
a aula da professora, pois, infelizmente (e repito, não é para dizer que um
país é melhor ou pior), em geral, não tivemos essa oportunidade em nossa
infância no Brasil, especialmente nas cidades desprovidas de museus.
Se vou a
um concerto, tem sempre uma criança mais concentrada do que eu, já que ela não
tem a minha cabeça de adulto “pensando na pesquisa enquanto ouve a música”.
Intuitivamente, ela já sabe que a música deixará marcas de criatividade para as
futuras pesquisas, acadêmicas ou não, o desbravar do mundo. Se vou a uma
livraria, sempre me deparo com uma cena interessante de criança, diante de
algum livro, exclamando uma das típicas expressões francesas de admiração: “Super!”
(oxítona), “Oh la la”, “Magnifique”. Et... c’est magnifique!
Em contrapartida,
o parisiense tem muito, também, dessa coisa apressada do paulistano, mas é como
eu disse, um botão que liga e desliga. Sei que em São Paulo, capital, há
oportunidades semelhantes, mas a minha comparação com cidade do interior faz
sentir falta desses ambientes contemplativos. E, mérito nosso de brasileiro,
ainda assim, com menos oportunidades, nós lutamos e buscamos. Ainda que
tenhamos que, maduros, aprender a ter a concentração adquirida por uma criança
europeia na infância.
* Érika de Moraes - atualmente, realizo estágio de Pesquisa pós-doutoral na Université Paris-Sorbonne, na França.
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