Remember me


Remember me (Lembranças), dirigido por Allen Coutler e distribuído por Paris Filmes

Se as fãs da saga Crepúsculo forem levadas ao cinema pela presença do astro Robert Pattinson, terão oportunidade de ver um outro tipo de filme, mas ainda um pouco do Edward, o vampiro introvertido, apesar de sua força. O ser humano ou sobre-humano torna-se pequeno diante do sentimento mais intenso do mundo, o amor. Mas vamos a Lembranças.
Gosto de filmes introspectivos. É um mergulho na introspecção seguir os pensamentos do jovem Tyler Roth, vivido por Pattinson, atordoado pela morte do irmão; da garota Ally (Emilie de Ravin), traumatizada pelo assassinato da mãe; das fortes figuras paternas da história e da pequena Caroline (Ruby Jerins), a irmã devota e querida, punida socialmente por ter uma consciência que vai além de seus 11 anos. Aos tropeços, Tyler tenta fazer certas justiças com as próprias mãos. Nada é totalmente certo ou errado, pois, como se diz em literatura, as personagens são complexas, e não planas - dentro do possível para um filme adolescente. Não há heróis e vilões, mas seres humanos tentando acertar, errando. Isto é bom no filme. Talvez apenas Caroline seja inteiramente pura, pois carrega a inocência da criança, mas o longa aborda também o potencial para a maldade infantil, revelando que inocência pode ser um disfarce. Não importa que alguns ganchos sejam batidos, como o amor que começa meio que como uma vingança ou brincadeira de amigos e se torna verdadeiro. A maneira como se conduz é o que conta. Arte é mais o como do que o quê.
Quanto ao desfecho, os críticos, provavelmente, amaram ou detestaram. É inesperado, porém fica um pouco forçado na amarração da história, sem que chegue a estragar. Quero dizer, ancora o roteiro e surpreende, mas não como a peça perfeita de um quebra-cabeça. Essa opinião pode divergir.
Robert declarou em entrevistas que “não gosta de finais felizes”. Eu gosto. Mas, de fato, do ponto de vista da arte, o estranhamento incômodo gerado pela ruptura do ciclo de felicidade possibilita uma reflexão mais aprofundada do que o começo/meio/fim concatenado do “felizes para sempre”. Os contos de fadas prometem felicidade e terminam a história no altar, o que causou a frustração de gerações. Talvez, hoje, os casais sejam mais felizes, pois sabem que vão enfrentar crises. Eu sei. E é assim que eu amo.

Remember Twilight
Por falar em Robert Pattinson, como apontado por matéria da Veja (23/12/09, ed. 2144), a saga Crepúsculo estaria de algum modo resgatando um romantismo da juventude da era do ficar. Uma juventude que não chega ao amor romântico via Shakespeare ou Camões, mas Stephenie Meyer. Melhor do que o vazio. Não é de todo mau popularizar o amor, não? E Robert integra esse momento. Com Lua Nova, divide espaço com (e até perde em algumas pesquisas de opinião para) Taylor Lautner. Quem leu os livros costuma tomar posição entre o romantismo cavalheiresco e protetor de Edward e as molequices descontraídas de Jacob. A balança tende a pender para Edward (Robert) na ficção, simultaneamente, para Taylor (o Jacob), na vida real. Taylor tem um sorriso carismático praticamente invencível. E as pessoas, por contraponto, começam a dizer que Robert é antipático. A introspecção soa antipatia no mundo a la trio elétrico. Só porque ele não está sempre sorrindo. Surgem boatos de que não gosta de mulher, de que cheira mal. Será?

Folhateen (1/3/10), em uma entrevista com ele, publica:

“O cabelo bagunçado estava sem cera. Quer dizer, sem cera cosmética: um sutil cheiro de sebo pairou na sala durante os 15 minutos de papo. Pode guardar a água benta: Robert Pattinson é humano.”

É de se interrogar por quê um ator se deixaria entrevistar nesse estado.

Como ator, Robert caminha. Ninguém nasceu pronto. Tem o mérito de ter construído o personagem Edward sem tantas descrições disponíveis nos livros, como é o caso da narradora Bella, cujos pensamentos são todos traçados por Meyer. Pode ter lido o inédito “O sol da meia noite”, mas tem sua parcela de criação. Talvez Remember me chame mais a atenção pelo astro do que por si mesmo. Mas esses caminhos alternativos são os que podem surpreender.

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