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Não olhe para cima! (ou olhe, sim!!!)

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Don’t look up! (Não olhe para cima!) Eu até demorei um pouquinho para ver o filme (os amigos já estavam comentando), repleto de figurões vencedores do Oscar: Leonardo DiCaprio, Meryl Streep, Cate Blanchett, Jennifer Lawrence e mais. O filme é uma sátira a presidentes estadunidenses , Trump em especial, e nele também reconhecemos nossas mazelas. O tema é dos mais atuais: o negacionismo científico com matizes de espetacularização política. Sem falar muito sobre o enredo (que já tem bastante conteúdo na Internet), chamaram-me atenção alguns pontos em especial, pelo olhar da Psicanálise, que tem me acompanhado nos estudos como analista de discurso. A personagem da estudante Kate Dibiasky (Lawrence) , tachada de nervosa, inapropriada ou bipolar, é quem mais demonstra lucidez. É ela quem chama atenção da mídia espetacularizada sobre “nem todo assunto dever ser tratado com leveza” . O debate entre real e simbólico é antigo nas mais diversas teorias, de modo que, às vezes, é necessário

Linkando as coisas: Fonética, Fonologia, Sociolinguística, Comunicação...

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Talvez os capítulos de Fonética e Fonologia sejam dos mais desafiadores, mesmo para estudantes de Letras e Linguística. Quem se depara pela primeira vez com símbolos fonéticos pode sentir um ‘travamento’ do tipo ‘isso parece matemática’ ( Obs. Eu, particularmente, gostava da matemática, mesmo escolhendo Humanas, mas deixemos isso para outra conversa. Latim é puro raciocínio. Que bacana seria se o ensino tivesse mantido noções de latim, como minha mãe teve, mesmo tendo conseguido estudar apenas até o fundamental). Vencida essa primeira barreira, um conhecimento, mesmo que básico, de leitura fonética pode trazer várias contribuições, entre as quais: habilidade em consultas em dicionários sobre pronúncia de palavras; conhecimento histórico sobre as línguas etc. Além desses benefícios práticos, há uma questão mais fundamentadora e relevante: Conhecer a profundidade e complexidade das diversas vertentes da Linguística é um caminho preciso para se combater o preconceito li

DIA DO TRABALHO

Em meus primeiros anos escolares, ‘últimos’ anos de ditadura, os livros repetiam como papagaios: “o trabalho dignifica o homem”. À época, nem havia abertura para questionar o quão patriarcal este termo HOMEM. Logo, descobri que o trabalho não só dignifica, mas também oprime. Felizmente, encontrando dentro de mim a posição do EQUILÍBRIO (onde me encontro numa sensação de solitude, num mundo polarizado), consegui reconciliar as coisas: o trabalho pode, sim, DIGNIFICAR, quando ele possibilita um ponto comum entre servir dignamente a coletividade e, a um só tempo, contemplar nossa própria subjetividade. Nem sempre (e não para todos) o espaço de subjetividade é possível. Eu mesma (privilegiada por ter podido estudar) luto por ele todos os dias. Não é fácil encontrar o lugar da subjetividade, sem abrir mão da empatia e da sensibilidade com o outro. Pender para qualquer um dos lados é uma linha tênue. O trabalho ‘pode’ dignificar. O trabalho ‘pode’ oprimir. Pode, não neces

TEXTO-ORAÇÃO PARA A SEXTA-FEIRA SANTA DE 2020

(da minha cabeça e coração) Pai Nosso, eis que precisamos reaprender a rezar. Se o Pai é “Nosso”, não posso apenas pedir por minha família e amigos. Peço por toda a humanidade, por todas as nacionalidades, e me deparo com o paradoxo: alguns sofrerão mais, sendo matematicamente impossível aliviar a todos na mesma medida. Diante desse conflito, quais as palavras certas para rezar sem egoísmo, na minha pequenez humana, preocupada com família e amigos? Como rezar direito, sabendo que alguns serão Cordeiro de Deus? Que possamos aprender com a dor do outro, mas que não sejamos tão indiferentes ao sofrimento alheio. Que humildemente reconheçamos nossos limites, sabendo que somos o Outro do outro. Não sei exatamente como é Deus, mas mantenho a confiança no Bem. Sempre muito inspirada por minha mãe nesta Terra, mantenho confiança em Maria, nossa mãe no Céu. Mantenho confiança nos médicos, profissionais de saúde e pesquisadores, inspirados pela Luz do Bem. Tomemos as vacinas

A Aula de Barthes

Saudade de estar em sala de aula com meus alunos. Tempos de quarentena. Nesse momento em que não é possível, pensei em palavras de grandes autores que eu pudesse compartilhar - com meus estudantes e com a vida. Lembrei-me desta famosa “Aula” de Roland Barthes, mais um clássico para os estudos de linguagem. No último texto, apontei que Saussure já previa a “luta de sentidos” como inerente à linguagem. Barthes, aqui, fala em “Vozes ‘autorizadas’, que se autorizam a fazer ouvir o discurso de todo poder: o discurso da arrogância” (p. 11). Um texto belíssimo, uma lição de humildade e uma astúcia: já que a língua tem esse ‘defeito’ (de não ser precisa, de provocar sentidos múltiplos, de despertar lutas de sentidos), para Barthes, o que podemos fazer, é “jogar” com ela: “porque é no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de que ela é o teatro” (p. 17). Para mim, o que há de mais bon

Saussure e lutas de sentidos

Dialogando com meus alunos... Dando continuidade ao estudo de Saussure (“Curso de Linguística Geral”), vamos refletir sobre a “luta de sentidos” que atravessa a constituição da linguagem. (vejam p. 21 do texto em discussão) No entendimento de Saussure, o “ato individual” é embrião da linguagem e, além dele, está o “fato social” onde haveria “uma espécie de meio-termo”: os mesmos signos unidos aos mesmos conceitos. Nisso, dá-se uma “cristalização social” – sobre a qual diz Saussure: “Pois é bem provável que todos não tomem parte do mesmo modo”. Disso, podemos pensar que há uma RELAÇÃO DE FORÇAS no estabelecimento de sentidos que ganharão o status de “oficial” na sociedade. (Esse tema será sofisticado nas teorias discursivas posteriores a Saussure). Pensando na divisão proposta por Saussure “Língua/Fala” (Langue/Parole), a língua seria como um “tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade”. MAS HÁ LUTA DE FORÇAS NO ESTABE

Sapiens - um livro para ser lido e estudado

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Uma narrativa instigante sobre nosso passado e uma reflexão perturbadora sobre nosso presente e futuro. Leitura poderosa - ao menos para duvidarmos da "verdade irrefutável" de uma doutrina, qualquer uma delas. Muito cuidado ao ler trechos isolados do livro e citar apenas as partes que interessam. Vale encarar suas 550 páginas e prestar atenção em suas próprias "ordens imaginadas". Uma das leituras experienciadas em 2019. Érika