La Chascona de Neruda

Um leão imenso, dourado, descabelado, macio, aconchegado na cama do casal. O felino - de pelúcia - foi um presente de Neruda à sua amante Matilde, que, como o bicho de olhar penetrante, também vivia "descabelada" - significado da palavra "Chascona", que dá nome à casa em homenagem à amada amante.

Porém o olhar de Matilde não teria sido penetrante como o do felino, talvez oblíquo e dissimulado como o de Capitu, pelo menos segundo o pintor-amigo Diego Rivera, que a caracterizou em um esboço com duas caras e olhos nebulosos, tangenciais, que nunca encaravam outros olhos. Será porque tentavam esconder o segredo de amor do casal?

No quadro finalizado de Rivera, uma surpresa: o rosto de Neruda oculto nos cachos de Matilde, assim como era o romance.

No que tange à juba, identifiquei-me, sempre descabelada pelo vento ou pela pressa ou pela chuva ou pela labuta, rsrs


Pablo Neruda, poeta e comunista militante. Teve uma esposa, mas apaixonado mesmo foi pela amante. Viveu cinco anos com as duas, até que o segredo foi entregue por um jardineiro que, um dia, irritou-se com o patrão. Fosse esse um segredo da era da Internet, e duraria no máximo cinco minutos. 

Por um lado comunista, por outro, colecionador de casas - hoje, museus abertos à visitação. Neruda teve três residências, todas inspiradas em barcos e com referências ao mar e à navegação, do que ele tanto gostava. Dividia, sim, suas casas e coleções, com os amigos mais íntimos com quem também compartilhava taças coloridas de vinho.

"Hasta el água tiene mejor sabor en una copa de color" (Pablo Neruda)




Neruda era um louco colecionador, de tudo um pouco: taças diferenciadas, bonecas, brinquedos, quadros, livros, estátuas, coisas às quais tentava dar um novo sentido em cada uma de suas três casas:

- La Chascona, em Santiago.

- La Sebastiana, em Valparaíso, sua casa de veraneio, mas na qual passava mais tempo do que na residência da Capital.

- La Isla Negra que, dizem, é a mais bonita de todas.

Imagens de La Sebastiana e um pouco da vista de Valparaíso, com o Pacífico, que Neruda de lá apreciava:




Dos ambientes internos, não se pode tirar fotos, por isso trouxe um livro com as imagens de lembrança. Mas não veio a foto do felino, razão pela qual tenho que me contentar com a imagem gravada em minha memória (o que não é ruim). 

Neruda acreditava que era preciso deixar as pessoas saberem sobre suas coleções; assim, seria ajudado a aumentá-las.

Viveu um tempo no exílio, longe de suas queridas casas, mas ao lado da eternamente amada Matilde, na Itália. Tempo ruim? Não para Neruda, que o transformou em extensas férias.

Lamentável mesmo foi que a ditadura chilena tenha destruído boa parte da casa "La Chascona", que precisou ter sua entrada totalmente reconstituída, havendo perdas de obras irrecuperáveis da coleção do poeta.

Sobre o lúdico de seus objetos - há, por exemplo, um cavalo de Carrossel na sala de estar de La Sebastiana, fixado como se estivesse em movimento - dizia:

"O menino que não brinca não é um menino. O homem que não brinca perdeu o menino que tem em si" (Pablo Neruda).

Perto de La Chascona, tem uma ruazinha colorida (que me lembrou o Caminito de Buenos Aires):


E, claro, o nosso clic to remember em La Chascona:


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