Flying
Visita ao Museu Asas de um Sonho em São Carlos, em 2007. Apaixonei-me por este avião!
Quando visitei o Museu da Aviação em São Carlos, em 2007, apaixonei-me por esta aeronave da foto. Foi a primeira projetada e construída por uma mulher, num tempo em que se pensava que os talentos do sexo feminino se resumiam à culinária e aos cuidados com o lar. Este modelo foi produzido em 1939 e importado pelo Brasil. Voou pouco: seu proprietário Joaquim Bicudo Ferraz solicitou o cancelamento da matrícula, por temer eventual requisição pelo governo para uso militar, em plena Segunda Guerra Mundial. O avião permaneceu desmontado por mais de 40 anos, até ser encontrado em um hangar em Itu, SP, quando foi incorporado ao museu – curiosamente, em troca de uma motocicleta (há outras histórias pitorescas no acervo).
A história desse avião, por um lado, confirma o estereótipo da criatividade e jogo de cintura femininos (a mulher, com poucos ingredientes, economiza e ainda faz um belo almoço...), já que ele antecipou um conceito de vendas de produto para montar (no estilo kit “faça você mesmo”). Por outro, deixa claro que a inteligência feminina sempre foi muito além.
Este American Flea Ship é o único exemplar do modelo na América Latina e, talvez, o único do mundo em condições de voo.
No museu, encontram-se as principais informações sobre a história de cada uma dessas aeronaves. No entanto, ao visitar o acervo, senti falta de um dado fundamental: o nome da inventora! O monitor não soube me dizer, mas passou-me o contato do responsável pelo museu (que por ele tem carinho especial, aliás). O Sr. João Amaro gentilmente me atendeu, repassando minha pergunta ao historiador Ian Comber. Fica minha sugestão: é muito válido acrescentar, na placa da aeronave, o nome da mulher que a projetou! Ou das mulheres envolvidas, já que, segundo o historiador Ian, a aeronave foi projetada pela americana Cassel de Hibbs, mas seu projeto em forma de kit parece ter sido de autoria de outra mulher, Lillian Holden. Detalhes que tornarão a história mais precisa e cuidadosa, valorizando a memória dessas figuras femininas.
O historiador pontuou ainda que há no museu outra aeronave que teve intensa participação feminina em seu projeto: o Miles Hawk M2H. Seu nome era Blossom Miles. Juntamente com o marido, George Miles, ela foi responsável pelo principal projeto do casal (um modelo avançado para a década de 1930), além de seu piloto de teste, tendo feito todos os ensaios de voo. Essa aeronave foi, mais tarde, responsável por um dos principais treinadores primários da Royal Air Force, Miles Magister. A fábrica da Miles na Inglaterra é considerada uma grande pioneira da aviação.
Para quem pensa que mulher deve saber fazer “pelo menos uma macarronada”...
Réplica do 14 Bis de Santos Dummond.
Atualmente fechado para uma grande reforma, o Museu merece ser visitado quando reinaugurado! (Escrevo sem patrocínio da Tam, rss...)
Postado no meu blog do UOL em: 16/03/09
Comentários recebidos:
ResponderExcluir[Sue] [sueellen.cruz@gmail.com] [sueelllencruz.blogspot.com]
Sempre bom lembrar que as mulheres podem (e sempre puderam) muito mais do que somos capazes de supor!
04/04/2009 13:12
[Rody] [rodrigo22oliveira@yahoo.com]
Meus dois irmãos fazem engenharia na USP de São Carlos. Um deles faz Aeronáutica. Vou passar o link do seu blog. Acho que ele vai gostar.