Três queixas
Coisa errada existe
Há algum tempo, Possenti escreveu o artigo “A leitura errada existe”. Deu polêmica. Numa época em que o papel ativo do leitor é valorizado, é preciso coragem para dizer que, sim, a interpretação X pode não ser cabível para o texto Y (o que não significa que Y possa ser interpretado de uma só forma). Mas nem é de linguagem que vou falar hoje. É da vida em geral, mesmo. (Só me lembrei do texto por causa do título)
Se eu tivesse de responder, numa enquete (como as das brincadeiras de infância), quais as três coisas de que menos gosto, minha resposta seria bem concreta:
Poluição.
Falta de seta no trânsito.
Cabeção de ‘atrasadinho’ no cinema.
Explico-me. Há mil coisas no mundo das quais podemos não gostar. A lista pode variar conforme a situação ou o humor do dia. Em geral, não gostamos dos substantivos abstratos. Observe as entrevistas com artistas: não gostam de mentira, falsidade, inveja... Eu também não gosto. Mas quem nunca cometeu um desses pecados imateriais, que atire a primeira pedra. Também não gosto de falar mal dos outros (e desconfio de quem vive a fazer isso), mas eu mesma, que sou humana, já falei, pois o limite entre isso e o desabafo é tão tênue. Mas acredito que o mundo poderia ser bem melhor se não fossem essas três coisinhas concretas.
A poluição. Não curto cigarro, mas, ok, sei que há o argumento sobre o direito de fumar. Já que não posso mudar o mundo, apenas tento fugir da fumaça e, às vezes, me privo da companhia de pessoas de que gosto e de ir a lugares bacanas. Opção. Num restaurante, recorro à área de não-fumantes, quando há. Já numa fila, penso que deveria prevalecer o bom senso. Não dá para aplicar a regra dos “incomodados que se mudem”, pois estar numa fila é sempre um caso de necessidade. Se seu avô fumava e morreu aos 105 de ‘velhice’, sorte dele. Minha respiração é sensível ao fumo passivo. E gosto dos meus cachos com cheirinho de xampu. E acho bem incoerente quando vejo algum defensor de árvores acendendo um cigarro.
Agora, se já é difícil fugir da fumacinha de cigarro, imagine da fumaçona das queimadas em terrenos baldios. Pois é, a lei proíbe, mas não tem jeito. É correr: fechar as janelas para que a fuligem e o cheiro cinza não se espalhem pela casa e borrem as roupas no varal. A gente perde o simples direito de secar a roupa com dignidade. Poderia ter mais fiscalização? Talvez, mas aposto que falariam de “indústria da multa”. O que falta mesmo é mais respeito com o próximo.
Vi e fotografei a pessoa ali, na minha cara, acendendo o fogo no terreno. Eis um exemplo de “coisa errada”: a mentalidade do tipo “dane-se o ar, dane-se a natureza, dane-se o outro”.
Falta de seta no trânsito. É divertido fazer o que se quer. Felizmente, há setores na vida em que tal liberdade é possível. A poesia, por exemplo. Você tem direito de escrever sobre o perfume, o cocô ou sobre o que quiser! Mas o trânsito precisa de regras e isso não é intransigência. É apenas uma questão de sobrevivência. Por isso, deixar de dar seta é outro exemplo claro de atitude errada. Assim como avançar a preferencial na placa de PARE como quem diz: “sai da frente que o bam-bam-bam quer passar”. Reclamar disso é intolerância minha ou uma questão de VIDA?
Motos, por favor, a seta vale para vocês também. Motoristas, não se esqueçam de que o lado de ultrapassagem é o esquerdo. E, por favor, a seta vem antes do ato de virar ou parar. O contrário não adianta.
Cabeção no cinema. Assumo, das três coisas citadas, essa é a menos grave, porque não mata. Só incomoda. Mesmo assim, vai para a minha lista. Não me refiro à pessoa alta sentada na poltrona da frente, mas sim a quem chega atrasado, no começo do filme ou nos trailers (gosto de ver os trailers, oras!) e chega, chegando, atravessando as fileiras na frente dos demais telespectadores, às vezes, até derrubando pipocas. Mas isso passa. Não é um comportamento exemplar (um pouquinho folgado, não acha?), porém, menos grave do que pôr fogo no mato ou mudar de faixa sem dar seta.
Fique à vontade para discordar da minha lista de 3 e, se quiser, aproveite os comentários deste post para fazer a sua.
Postado no meu blog do UOL em: 21/3/08
Há algum tempo, Possenti escreveu o artigo “A leitura errada existe”. Deu polêmica. Numa época em que o papel ativo do leitor é valorizado, é preciso coragem para dizer que, sim, a interpretação X pode não ser cabível para o texto Y (o que não significa que Y possa ser interpretado de uma só forma). Mas nem é de linguagem que vou falar hoje. É da vida em geral, mesmo. (Só me lembrei do texto por causa do título)
Se eu tivesse de responder, numa enquete (como as das brincadeiras de infância), quais as três coisas de que menos gosto, minha resposta seria bem concreta:
Poluição.
Falta de seta no trânsito.
Cabeção de ‘atrasadinho’ no cinema.
Explico-me. Há mil coisas no mundo das quais podemos não gostar. A lista pode variar conforme a situação ou o humor do dia. Em geral, não gostamos dos substantivos abstratos. Observe as entrevistas com artistas: não gostam de mentira, falsidade, inveja... Eu também não gosto. Mas quem nunca cometeu um desses pecados imateriais, que atire a primeira pedra. Também não gosto de falar mal dos outros (e desconfio de quem vive a fazer isso), mas eu mesma, que sou humana, já falei, pois o limite entre isso e o desabafo é tão tênue. Mas acredito que o mundo poderia ser bem melhor se não fossem essas três coisinhas concretas.
A poluição. Não curto cigarro, mas, ok, sei que há o argumento sobre o direito de fumar. Já que não posso mudar o mundo, apenas tento fugir da fumaça e, às vezes, me privo da companhia de pessoas de que gosto e de ir a lugares bacanas. Opção. Num restaurante, recorro à área de não-fumantes, quando há. Já numa fila, penso que deveria prevalecer o bom senso. Não dá para aplicar a regra dos “incomodados que se mudem”, pois estar numa fila é sempre um caso de necessidade. Se seu avô fumava e morreu aos 105 de ‘velhice’, sorte dele. Minha respiração é sensível ao fumo passivo. E gosto dos meus cachos com cheirinho de xampu. E acho bem incoerente quando vejo algum defensor de árvores acendendo um cigarro.
Agora, se já é difícil fugir da fumacinha de cigarro, imagine da fumaçona das queimadas em terrenos baldios. Pois é, a lei proíbe, mas não tem jeito. É correr: fechar as janelas para que a fuligem e o cheiro cinza não se espalhem pela casa e borrem as roupas no varal. A gente perde o simples direito de secar a roupa com dignidade. Poderia ter mais fiscalização? Talvez, mas aposto que falariam de “indústria da multa”. O que falta mesmo é mais respeito com o próximo.
Vi e fotografei a pessoa ali, na minha cara, acendendo o fogo no terreno. Eis um exemplo de “coisa errada”: a mentalidade do tipo “dane-se o ar, dane-se a natureza, dane-se o outro”.
Falta de seta no trânsito. É divertido fazer o que se quer. Felizmente, há setores na vida em que tal liberdade é possível. A poesia, por exemplo. Você tem direito de escrever sobre o perfume, o cocô ou sobre o que quiser! Mas o trânsito precisa de regras e isso não é intransigência. É apenas uma questão de sobrevivência. Por isso, deixar de dar seta é outro exemplo claro de atitude errada. Assim como avançar a preferencial na placa de PARE como quem diz: “sai da frente que o bam-bam-bam quer passar”. Reclamar disso é intolerância minha ou uma questão de VIDA?
Motos, por favor, a seta vale para vocês também. Motoristas, não se esqueçam de que o lado de ultrapassagem é o esquerdo. E, por favor, a seta vem antes do ato de virar ou parar. O contrário não adianta.
Cabeção no cinema. Assumo, das três coisas citadas, essa é a menos grave, porque não mata. Só incomoda. Mesmo assim, vai para a minha lista. Não me refiro à pessoa alta sentada na poltrona da frente, mas sim a quem chega atrasado, no começo do filme ou nos trailers (gosto de ver os trailers, oras!) e chega, chegando, atravessando as fileiras na frente dos demais telespectadores, às vezes, até derrubando pipocas. Mas isso passa. Não é um comportamento exemplar (um pouquinho folgado, não acha?), porém, menos grave do que pôr fogo no mato ou mudar de faixa sem dar seta.
Fique à vontade para discordar da minha lista de 3 e, se quiser, aproveite os comentários deste post para fazer a sua.
Postado no meu blog do UOL em: 21/3/08
Comentário recebido:
ResponderExcluirtambém odeio todas essas coisas! E odeio também pessoas que furam fila, gente que senta no banco preferencial do ônibus e garçom mal educado! hehehe
Sue Ellen | sueellen.cruz@gmail.com | sueellencruz.blogspot.com | 22/03/2008 14:47