CRÔNICA - Surpresa de Ano Novo
Surpresa de Ano Novo
por Lívia Reginato
Todo ano já sei
que aquele momento está chegando, começo a pressentir pelo cheiro de panetone
no ar, quando sinto o primeiro aroma de frutas secas, já vou me preparando
psicologicamente...
Chega parente de
todo canto, a casa fica cheia, tem gente para brincar comigo e matar a saudade
em todos os cômodos, é uma alegria só! Sempre fico feliz quando lembram de mim
e ganho algum mimo. Corro de um lado para outro tentando dar atenção a todos,
mas é uma tarefa difícil.
Peixe assado,
salada de lentilha, pernil, bacalhau, torta de romã, outros cheiros vão me
animando ao passar dos dias. Às vezes, vou tentar pegar alguma bolinha da
árvore de natal, mas tem sempre alguém para me tirar de perto de lá, acabo
deixando para depois. Se eu der sorte, consigo pegar um pedaço grande de
pernil, é só esperar com cautela, ficar no lugar certo, olhar com jeitinho para
a pessoa certa e pronto: sempre funciona.
Mas quando chega
a noite e todo mundo vai dormir, me encolho na minha cama, sabendo o que está
por vir. Tento não fazer nenhum barulho, a casa está cheia, não quero
incomodar. Ano passado dei umas resmungadas e acordei um dos bebês, acabou que
ninguém dormiu. Este ano vou me controlar, eu prometi.
Os dias passam
nesse clima agitado. À certa altura, minha mãe arruma a mesa de jantar com um
pano bem bonito que era da vó dela. O dia é de fartura, todos muito felizes,
tem comida boa e música o dia todo. Mas eu sei o que está por vir, mesmo que eu
tente aproveitar, uma vozinha lá no fundo da minha mente me lembra, a noite vai
chegar...
Uma das crianças
vem brincar comigo, como cresceu! Me distraio por uns segundos, mas o relógio
começa a badalar: uma, duas, três, quatro. Já sei que chegou a hora: corro para
debaixo da cama da minha mãe. Cinco, seis, sete. Cubro meus ouvidos com minhas
patas, tento não chorar. Oito, nove, dez, onze...
Doze.
Todos gritam
aclamando o ano novo, mas algo está diferente, escuto barulhos ao fundo, mas
não são como nos outros anos. Minha mãe vem me buscar, eu não quero sair, pode
ser que tenha atrasado, tenho medo.
Ela consegue me
tirar de debaixo da cama, me leva para a sacada da casa, tem mais gente lá
brindando e se abraçando. Mas quando vejo o céu, ah! Que lindo é o céu! Cheio
de luzes, brilhando por toda parte, escuto alguns estrondos, mas é só isso, e
luzes e mais luzes piscam por todos os lados vindo do parque Vitória Régia. Eu
lato com alegria, que coisa linda! Minha mãe faz carinho na minha cabeça.
Que venha 2016!
* Pela primeira
vez, a queima de fogos da cidade de Bauru utilizou explosivos que fazem menos
barulho, para o bem-estar dos pets e das crianças.
****
Notinha da professora Érika:
Tenho algo em comum com os pets de estimação: nunca gostei do barulho dos fogos de artifício!!!
Esta foi uma ótima iniciativa da cidade de Bauru, que avançou pelo menos no que diz respeito a esta questão. É pena que muitos cidadãos continuem soltando rojões de maneira desastrosa e perigosa, sem preparo ou planejamento.
Lívia Reginato é estudante de jornalismo na Unesp, Bauru.
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