CRÔNICA - Almas dançantes

Hoje, a crônica é da estudante Giovana Murça Pastori (Jornalismo, Unesp), uma reflexão poética sobre a vida e o cantar dos pássaros.
Boa leitura!
Profa. Érika

Almas dançantes

por Giovana Murça Pastori      

São 6 horas da tarde. Pela rua movimentada passam veículos barulhentos e a fumaça cinza anuncia o horário do rush.
Um ônibus sobe a rua do cemitério e, dentro dele, muitas pessoas se espremem a fim de somente voltar para casa ao final de mais um dia cansativo de trabalho. As pessoas vão com semblantes fechados, cansados e sérios, a maioria infeliz, descontente com tudo a sua volta e com sua vida.
O ônibus passa pelo cemitério e aquelas pessoas lembram-se de seus parentes falecidos, lembram que a vida é curta, e que aquele é o destino de todos: a morte. Mas somente lembram, passam e esquecem.
 Enquanto isso, dentro do cemitério, quanta ironia, um bando de passarinhos voa sem parar, de um lado para o outro, por cima das sepulturas, brincam com toda tristeza, melancolia, depressão de um lugar esquecido pelos vivos, zombam da morte, dançam alegremente sobre o choro de quem ficou.
E quem ficou agora está naquele ônibus que passa pelo cemitério, com cara de tédio e tristeza, e bem ali do outro lado estão os passarinhos como almas dançantes em cima das sepulturas, como uma festa dos mortos que passa despercebida.
Todos os dias, no horário do rush, aqueles passarinhos tentam mostrar a alegria da vida, o real sentido para viver, mas aquelas pessoas daquele ônibus nunca os percebem, e somente continuam voltando pra casa, como se não soubessem que um dia serão elas que descerão naquele ponto do cemitério e serão zombadas por um bando de passarinhos dançantes, que riem não só da morte, mas sim da falta de vida daquelas pessoas com semblantes fechados, naquele ônibus lotado de tanta vida sem vida.

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