CRÔNICA - Como explicar pro Fernandinho?
Mais uma crônica para encarar preconceitos.
Texto da estudante Amanda Casagrande (Jornalismo, Unesp)
Texto da estudante Amanda Casagrande (Jornalismo, Unesp)
Como explicar pro Fernandinho?
por Amanda Casagrande Mela
Um
homem, uma mulher e o filho. Era a tradicional família brasileira do século XXI.
Os pais andavam preocupados em como explicar a situação pro filho de 8 anos. Nessa
idade, a mentalidade ainda estava se formando e eles estavam com medo que a notícia confundisse ou
influenciasse o menino Fernando. Tão criança, não sabia nada da vida ainda,
coitadinho. Precisava aprender a lidar com a situação.
A
mãe ficou indignada ao saber que sua irmã aceitou numa boa. Ela, por sua vez, levou
dias pra digerir a situação e até relutou bastante diante da
"escolha" do sobrinho. O pai de Fernandinho ficou pasmo no início,
mas depois comentou com a mulher: "eu sempre soube que uma hora isso ia
acontecer, o seu sobrinho sempre teve jeito pra essas coisas".
Depois
de algumas noites mal dormidas, o casal decidiu que seria o pai que contaria ao
filho. Acharam que seria melhor o Fernandinho ouvir isso de uma figura mais
imponente. Talvez ele nem fosse influenciado pela situação se um homem másculo
o bastante lhe desse a notícia.
-
Filho, o papai quer te falar uma coisa. Seu primo William vai viajar com a
gente, mas vai acompanhado.
Os
dois ficaram em silêncio. Fernandinho, que estava jogando UFC com o olhar fixo
no videogame, nem deu bola pro que tinha acabado de ouvir. Mas o pai continuou
mesmo assim:
- Ele
vai levar o namorado para o Guarujá com a gente.
O
jogo foi pausado quase que instantaneamente. Bastou o garoto apertar um único
botão do controle que estava em suas mãos. Ele olhou pro pai com o rosto
confuso.
- Mas
pai... Como assim?
- Eu
sei que é estranho, mas...
-
Muito estranho. A mamãe falou que íamos pra Ubatuba.
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