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Mostrando postagens de 2016

O Incrível Hulk Azul

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O Incrível Hulk Azul (Sobre crianças, trabalho, profissões...) - Vem na minha casa, tia! - A tia logo vai! - Vem amanhã! - A tia vai daqui uns dias, antes tem que trabalhar. - Pra ganhar din din, né! Você traz um Hulk azul? A mamãe dele já explicou que não é para pedir as coisas. Mas é compreensível, ele só tem dois aninhos. E eu faço parte do ainda pequeno círculo de pessoas que, ele sabe muito bem, o querem feliz e amado. E observem o que ele pediu primeiro: presença. Claro que a titia apaixonada está doida para encontrar um Hulk azul (ele me disse que tem “na barraquinha”), mas parece que ele me escolheu para uma missão um pouco difícil (será que vale pintar um verde com tinta azul? Ou escolher um Smurf bem bravo com cara de Hulk?). Para quem não está atualizado, já existe Hulk vermelho, o que deve ter levado meu sobrinho a imaginá-lo de todas as cores. A história do Hulk me fez pensar sobre como vamos construindo a ideia de trabalho nas crianças. O primeir

Reinos desunidos

O resultado do referendum inglês pela saída do Reino Unido da União Europeia – o chamado Brexit – trouxe ao mundo a sensação de estar presenciando um daqueles momentos históricos em que a linha do tempo irrompe em um marco. Em tais circunstâncias, não é difícil esquecer que a história de fato é constituída nas peculiaridades do dia a dia de cada cidadão. Qual a semelhança entre a experiência inglesa e a brasileira nas últimas eleições? Ambas trazem à tona as benesses e as controvérsias da democracia: esta não é a vontade de todos, mas de uma maioria. É questionado, porém, o próprio conceito de maioria quando os resultados mostram sociedades divididas. Por um lado, a democracia tem a sua legitimidade (e qual seria a alternativa a ela, se não a de recair em regimes totalitaristas?), por outro, um resultado como o britânico – 51,9 a 48,1% – representa um empate técnico. E, havendo empate, existe realmente a vontade de uma maioria? Ou existem vontades opostas que convivem no mesmo tem

Língua, ideologia e empoderamento

O dia da Língua Portuguesa (5/5) é uma oportunidade para refletirmos sobre o significado social e político da linguagem em nossas vidas. Língua (não só a portuguesa) não se resume a um conjunto de normas de padronização (embora tais normas tenham funções importantes em termos de unidade e historicidade). Dizer que a língua não se resume às normas não implica negá-las ou minimizar a importância de aprendê-las, mas mostrar que seu conceito é muito mais amplo. Tomemos como exemplo o tema da aprovação, por deputados do estado de Alagoas, de lei que obrigaria professores a manter “neutralidade” em sala de aula, impedindo-os de “doutrinar” alunos em assuntos políticos, religiosos e ideológicos. Além da inconstitucionalidade, que pode ser discutida em âmbito jurídico, tal lei parte de um pressuposto equivocado, o de que existiria uma forma de linguagem desprovida de ideologia. Com o nome “Escola Livre”, uma lei como essa, a rigor, imprime a censura nas salas de aula. Assim como a censura

Do lar, da luta e da lua

O enunciado da revista Veja, causador de polêmicas e brincadeiras nas redes sociais, não teria tanta relevância se considerado isoladamente: exalta um tipo de mulher - a bela, recatada e do lar, esposa de um homem de sorte. A personalidade retratada na matéria merece todo o nosso respeito como ser humano, como todas as mulheres e homens o merecem, inclusive a esposa de um político ou a Presidente da República. Criticar o governo é um exercício democrático (poderíamos criticar suas bases, por exemplo, a aliança PT-PMDB); já ofender pessoalmente um governante, com xingamentos, é algo bem diferente. Da mesma forma, ponderar o enunciado de Veja não significa desrespeito às mulheres belas (somos todas, em nossas lutas e biótipos), recatadas e do lar. Exercer uma profissão, aliás, não implica deixar de ter um papel fundamental no lar e, nesse aspecto, os maridos também são dos lares. Um dos dois, homem ou mulher, teria todo o direito de escolher exercer apenas uma das funções, mas os te

Minha carta às crianças do Brasil

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Queridas crianças, Escrevo para vocês. Se ainda for pequena, papai, mamãe, titia ou algum responsável poderá ler para você. Este mundo está complicado. Tem violência em toda parte. Brigas por política aqui no Brasil, atentados terroristas do outro lado do mundo. Tem mosquito, dengue e zika. Mas, acalme-se. Vou dizer por que vai dar tudo certo. Vai dar certo por causa de VOCÊ. Você pode construir um mundo melhor. Eu não sou mãe, mas sou titia, professora, amiguinha e tenho uma irmã mais nova. Brinquei com ela de tudo, de boneca a escolinha. Sou professora dos maiores, dos jovens que já estão na faculdade. Também sou pesquisadora e escrevo alguns textos que poucas pessoas leem, mas sempre que alguém me diz que leu e aprendeu algo, fico muito feliz, porque não escrevo apenas para contar ponto no Lattes ( não se preocupe em entender esse Lattes agora, é coisa do mundo dos adultos ). Já escrevi sobre desenhos de crianças palestinas , sobre a Mona Lisa e outras

CRÔNICA - Dias claros como a neve

Crônica da estudante Larissa Borges Caliari (Jornalismo - Unesp) inspirada em notícia real. Dias claros como a neve por Larissa Borges Caliari Acordo de manhãzinha e sinto o dia frio, ouço o papai chamando a mamãe para olhar a paisagem da janela. Ela se anima e ouço seus passos quando levanta da cama correndo. Os dois falam sobre a neve, em como ela deixou a paisagem branquinha durante a noite. Os dias mais frios são sempre muito animados aqui em casa. A voz da mamãe se torna mais doce e calma, e a do papai mais confiante e serena. Fico imaginando como é a paisagem, me esforço para enxergar a mamãe e o papai, vejo o vulto deles, abraçados, olhando um para o outro. Então, eles caminham em minha direção, sinto o perfume do papai, que acabou de tomar banho para ir ao trabalho. Ele coloca um cobertor quentinho em cima de mim, enquanto a mamãe coloca a mamadeira em minha boca. Ouço o som de lenha queimando na lareira, de água fervendo para o chá, da batedeira funcionando. Logo

CRÔNICA - Vinte e três

Será que somos apenas um conjunto de números? Ou seres humanos, com nomes, sonhos, planos, emoções e algo mais... Texto singelo produzido pela estudante  Clara Tadayozzi (Jornalismo - Unesp) Vinte e três por   Clara Tadayozzi     - Ela era bonita? – perguntou, depois de certa hesitação. - Para mim, a mais bela de todas – ele respondeu com visível ternura. Naquele quarto frio de hospital, a visita diária às vezes trazia assuntos inusitados. Ele prosseguiu relatando o pouco que sobrou de uma vida memorável. - Nunca me esqueço do dia em que pedi sua mão. Namorávamos já havia algum tempo, às escuras. Ela era apenas um ano mais nova do que eu. Nunca senti tanto receio em toda a minha vida; seu pai era tido com respeito, temido por todos os peraltas da cidade. E eu, para a surpresa de todos, acabei sendo aceito naquela humilde família. Logo criamos nossa pequena rotina, naquela vida adorável de recém-casados. Aos fins de semana, costumávamos sair para comer fora e

CRÔNICA - Como explicar pro Fernandinho?

Mais uma crônica para encarar preconceitos. Texto da estudante Amanda Casagrande (Jornalismo, Unesp) Como explicar pro Fernandinho? por Amanda Casagrande Mela         Um homem, uma mulher e o filho. Era a tradicional família brasileira do século XXI. Os pais andavam preocupados em como explicar a situação pro filho de 8 anos. Nessa idade, a mentalidade ainda estava se formando e eles estavam  com medo que a notícia confundisse ou influenciasse o menino Fernando. Tão criança, não sabia nada da vida ainda, coitadinho. Precisava aprender a lidar com a situação.      A mãe ficou indignada ao saber que sua irmã aceitou numa boa. Ela, por sua vez, levou dias pra digerir a situação e até relutou bastante diante da "escolha" do sobrinho. O pai de Fernandinho ficou pasmo no início, mas depois comentou com a mulher: "eu sempre soube que uma hora isso ia acontecer, o seu sobrinho sempre teve jeito pra essas coisas".      Depois de algumas noites mal dormidas, o

CRÔNICA - O desfile das divas

Produção do meu aluno Wesley Anjos (Jornalismo, Unesp) Um texto para enfrentar preconceitos! profa. Érika O desfile das divas por Wesley Anjos Todo final de ano era assim: as famílias reunidas na praia e a Zezé se metendo a falar do tal do feminismo. Lourdinha sempre torcia o nariz com desdém. Dessa vez, com cara de quem comeu e não gostou nadinha, pôs-se logo a argumentar:  “Credo! Deus que me livre dessa pouca vergonha. Outro dia vi uma tal Marcha das Vadias. Se elas gostam de se aparecer como vadias, por que não gostam de ser tratadas como tal? Safadeza, isso sim!”. -   Você reproduz o discurso que eles querem que reproduzamos, sem ao menos perceber. -    Muito pelo contrário. Aprendi com a minha mãe, que aprendeu com a minha avó. -    Que assim como você reproduziram sem reclamar o que os machistas queriam! Sônia tratou logo de falar da beleza da praia. Queria era evitar que a discussão se estendesse. Todo ano era igual. Para que discutir? Para que arrumar mais

CRÔNICA - A morte e a letra "M"

A estudante Isabela Holl (Jornalismo, Unesp) escreve sobre o tempo, sobre a vida... A morte e a letra “M”  por Isabela Holl       João tinha 6 anos quando tirou a roupa, abriu a porta do box e ligou o chuveiro. Assim que a água tocou o seu corpo, seu coração disparou, sua respiração ficou mais rápida e, naquele momento, tomou consciência de uma coisa: um dia ele iria morrer.       Talvez você, leitor, já tenha experimentado esta sensação única e difícil de descrever. É quando seu organismo, seu cérebro e seu coração percebem que são efêmeros. O pânico se espalha aos poucos; célula por célula. É normal ter pensamentos como “Isso não é justo!”, “ Isso não pode ser verdade!” ou “Por que, Deus?”.       E, para piorar ainda mais, temos o Senhor Tempo. Ele não costuma ajudar, pois ele tem a mania de passar rápido demais. Atualmente, um estranho fenômeno acontece: o Tempo parece realmente ter perdido a paciência. Não se sabe muito bem o motivo, mas ele está correndo cada vez ma

CRÔNICA - O ano em que avistamos uma nova primavera

Crônica politizada da minha aluna Gabriella Soares dos Santos (Jornalismo / Unesp) sobre o louco ano de 2015. Profa. Érika O ano em que avistamos uma nova primavera por Gabriella Soares dos Santos  Analisando as principais manchetes dos jornais de 2015, consigo observar que esse foi um ano dramático e que ficará marcado para todos, seja pelos seus momentos positivos, seja pelos negativos. Nesse sentido – e admito de início: assumo aqui uma postura positiva –, é impossível não perceber que esse ano significou um marco para os mais diversos movimentos e as mais diversas causas ao redor do mundo. Vimos atentados terroristas abalarem os pilares da democracia ocidental ao mesmo tempo em que testemunhamos o maior movimento migratório desde a Segunda Guerra Mundial com suas trágicas consequências. Vimos a corrupção em sua forma mais clara, junto com o mar de lama que dela se originou, destruir fauna, flora e vidas. Observamos e sofremos com a violência policial, que, de tão fre

CRÔNICA - Uma foto para registrar Chá Líquido

Já visitei algumas cidades imaginárias. Com a aluna Karina , conheci Chá Líquido. Espiei-a pela janela do trem e voltei para cá. Afinal, amanhã tenho aulas com esses alunos criativos! Profa. Érika Uma foto para registrar Chá Líquido por Karina Francisco Era dezembro na cidade de Chá Líquido, Ana estava caminhando pelas ruas a apreciar e fotografar os enfeites natalinos. Ela ainda não se adaptara totalmente à nova cidade, em que todos estavam sempre correndo, em busca do que comprar, do que consumir, do que fazer para ganhar dinheiro, fugindo de compromissos profundos demais. Era muito frio se comparado a Ferra Maciço, onde nascera. Mas ela tinha sua câmera, e com ela ficava horas registrando seus pensamentos e sentimentos. Ana continuou seu caminho, seu namorado estava atrasado como sempre, parecia nunca se importar com horários, compromissos ou qualquer assunto que demorasse muito a acabar. Ana não ligava, achava engraçada essa aversão de seu namorado em se apegar a

CRÔNICA - Surpresa de Ano Novo

Surpresa de Ano Novo por  Lívia Reginato      Todo ano já sei que aquele momento está chegando, começo a pressentir pelo cheiro de panetone no ar, quando sinto o primeiro aroma de frutas secas, já vou me preparando psicologicamente...      Chega parente de todo canto, a casa fica cheia, tem gente para brincar comigo e matar a saudade em todos os cômodos, é uma alegria só! Sempre fico feliz quando lembram de mim e ganho algum mimo. Corro de um lado para outro tentando dar atenção a todos, mas é uma tarefa difícil.      Peixe assado, salada de lentilha, pernil, bacalhau, torta de romã, outros cheiros vão me animando ao passar dos dias. Às vezes, vou tentar pegar alguma bolinha da árvore de natal, mas tem sempre alguém para me tirar de perto de lá, acabo deixando para depois. Se eu der sorte, consigo pegar um pedaço grande de pernil, é só esperar com cautela, ficar no lugar certo, olhar com jeitinho para a pessoa certa e pronto: sempre funciona.     Mas quando chega a no

CRÔNICA - Almas dançantes

Hoje, a crônica é da estudante Giovana Murça Pastori (Jornalismo, Unesp), uma reflexão poética sobre a vida e o cantar dos pássaros. Boa leitura! Profa. Érika Almas dançantes por  Giovana Murça Pastori        São 6 horas da tarde. Pela rua movimentada passam veículos barulhentos e a fumaça cinza anuncia o horário do rush. Um ônibus sobe a rua do cemitério e, dentro dele, muitas pessoas se espremem a fim de somente voltar para casa ao final de mais um dia cansativo de trabalho. As pessoas vão com semblantes fechados, cansados e sérios, a maioria infeliz, descontente com tudo a sua volta e com sua vida. O ônibus passa pelo cemitério e aquelas pessoas lembram-se de seus parentes falecidos, lembram que a vida é curta, e que aquele é o destino de todos: a morte. Mas somente lembram, passam e esquecem.  Enquanto isso, dentro do cemitério, quanta ironia, um bando de passarinhos voa sem parar, de um lado para o outro, por cima das sepulturas, brincam com toda tristeza, mela

CRÔNICA - À labuta, filhos da escola

A crônica da estudante  Beatriz Milanez  (Jornalismo, Unesp) me fez lembrar de uma canção do Balão Mágico, lá da infância, que dizia assim: Amigo, companheiro de colégio, hoje eu canto de alegria por de novo te encontrar. Nas férias, eu brincava todo dia, mas no fundo o que eu queria era mesmo estar aqui... Vamos ler? Nos próximos dias, tem mais. Profa. Érika À labuta, filhos da escola por Beatriz Milanez       Não foram poucas as vezes que ouvi aquele clichê: “passar no vestibular é fácil, o difícil mesmo é sair da faculdade”. É de se confessar que custei a acreditar, e só fui me dar conta de que era a verdade assim que o despertador tocou pela terceira vez, quando cansei de apertar o botão “soneca”. Os cinco minutinhos a mais tinham se transformado em quase quinze. Só quinze. Ainda com a voz embargada e a cara amassada, tentei contar quantos dias ainda faltavam pro final. Tentativa falha, claro. O sono era demais.       No começo, as coisas são mais fáceis. Até mesm

CRÔNICA - Filhos da Pátria

Meus alunos do curso de Jornalismo (Unesp) produziram belas crônicas para a aula de Técnica Redacional II, cada um com seu lirismo e estilo. Pedi autorização deles para divulgar aqui no blog e, assim, guardá-las também como lembrança. Vamos começar com a da estudante Amanda de Assis Araújo , que deu voz ao nosso Pai-Filho-País. Profa. Érika PS: outras turmas também produziram ótimos textos. Agora, veio a ideia de mostrar por aqui, em vez de guardar para "algum dia montar um livro". Filhos da Pátria por Amanda de Assis Araújo Cada dia vivo com inúmeros problemas de saúde: sejam eles econômicos, sociais ou políticos e, infelizmente, sempre preciso de outras pessoas para resolvê-los por mim. Atualmente, meu maior problema está na área da política, porque sofro com corrupção, desvio de verbas, falta de governabilidade e as pessoas escolhidas para resolverem esses problemas para mim não estão dando conta. Uma delas tem o título de Presidente da República Federativa do